No que você acredita? A importância de conhecer nossas crenças profissionais
Nesse final de ano, minha sugestão é que você deixe seus planos um pouco de lado — e reflita sobre as coisas nas quais você acredita como profissional.
Acho que a maioria de nós já passou por uma situação como essa: em determinado momento do nosso trabalho alguém toma uma decisão com a qual não concordamos — ou alguém nos faz tomar uma decisão com a qual não concordamos — mas que, de alguma maneira, precisamos executá-la. Seja não seguir em frente com alguma feature validada, fazer rollout de algo sobre o qual não temos evidências fortes, ou até investir em uma iniciativa que piora a vida dos usuários mas gera receita adicional para a empresa.
Isso nos deixa incomodados — e muitas vezes nem sabemos por quê.
Esse incômodo acontece porque o que nos foi pedido não é uma simples discordância — é algo que vai contra alguma de nossas crenças. Mesmo que a gente nem saiba que elas existem.
E o que acaba rolando normalmente é que, ao longo do tempo, esse incômodo só aumenta. Pois a gente vai se vendo em diversas situações nas quais, em teoria, precisamos abrir mão do que acreditamos para mostrar que estamos alinhados com os valores e a cultura do lugar em que trabalhamos.
O fato de termos nossas próprias crenças – mesmo que não sejam alinhadas com as do lugar em que trabalhamos — não é um desvio de comportamento. É o que nos torna profissionais únicos e capazes de entregar valor.
Todos nós temos crenças. Só que muitas vezes não paramos pra entender quais são elas. E o ambiente ao nosso redor também não estimula que a gente expresse nossas visões pessoais sobre assuntos que são de interesse geral. Na maioria das vezes o modo de operação dos lugares em que trabalhamos busca tentar criar visões pasteurizadas e validadas pelas lideranças — que são vendidas como visões compartilhadas.
Por isso é importante que a gente construa e evolua nosso sistema de crenças. Quando trocamos de empresa, são essas crenças que mantém nossa capacidade de continuar atingindo objetivos e entregando resultados. São elas que nos fazem continuar capazes de tomar decisões, discordar quando tem evidências contrárias e ter boas ideias, independente da empresa em que estamos.
Definindo o que são crenças (e valores e princípios também)
Estes são três conceitos importantes e normalmente confundidos. Juntos ou separadamente, eles governam nossas atitudes e nosso comportamento — no trabalho e na nossa vida como um todo.
Valores são mais comumente usados pelas empresas para alinhar quais comportamentos são aceitáveis e quais não são. Normalmente são conceitos de alto nível — e muitas vezes genéricos ou apenas estéticos. O fato de precisarem ser mais alto nível acaba os tornando difíceis de aplicar no dia-a-dia por muitas pessoas. Mas quando são bem utilizados, os valores de uma empresa são facilmente reconhecidos em comportamentos de todos os times e níveis.
Crenças são mais individuais e são construídas a partir das nossas experiências. Num nível coletivo, as crenças são um desdobramento prático dos seus valores — mais direcionada à ação e ajudam a reconhecer o que é "certo" e o que é "errado". Duas pessoas podem ter crenças que discordam entre si, mas por serem muitas vezes construções individuais, elas não deveriam ser questionadas.
E, no final, princípios são produtos das nossas crenças e valores. Se determinada pessoa não acredita que, por exemplo, ouvir o usuário é importante para basear suas decisões, dificilmente ela poderia declarar como princípio que "o usuário está no centro do processo". E isso vale tanto individualmente quanto coletivamente.
Minha sugestão é: antes de começar a definir planos e metas para 2022, passe um tempo refletindo sobre quais são suas crenças profissionais. E, dentro desse espírito, gostaria de compartilhar com vocês algumas das coisas nas quais acredito muito — e que me ajudaram a chegar até aqui.
1. O que fazemos é um meio para atingir objetivos em relação ao negócio e aos clientes/usuários, e não um fim em si mesmo.
Nunca podemos nos perder em coisas que nos tirem desse alinhamento — sejam elas métodos, tendências da disciplina ou qualquer tecnicalidade que não tenha a ver com o objetivo final do nosso trabalho.
2. Pessoas de produto têm que se conectar com as questões certas no seu trabalho.
E abandonar tudo o que não representa algum salto importante para o produto em que trabalha. E pra isso não dá pra não entender como um negócio funciona — além dos jargões e dos conceitos pasteurizados. Entender de verdade sobre negócios ajuda a entendermos o impacto potencial do nosso trabalho. E também nos ajuda a navegar melhor em questões complexas que aparecem no nosso dia-a-dia.
3. Temos que buscar sempre a responsabilidade pelas decisões e não apenas pelo processo.
Participar — ou tomar — decisões em produto requer mais do que vontade ou alguns canvas na caixa de ferramentas. Precisamos de contexto sobre o negócio, mercado e estratégia da empresa; precisamos acumular experiências relevantes que nos ajudem a entender riscos e complexidade envolvidos. E precisamos estar extremamente próximos do problema e da solução.
4. Autoconfiança é tão (ou mais) importante quanto competência técnica.
Principalmente no contexto em que trabalhamos — no qual é esperado (nem sempre de maneira justa) que a gente tome decisões o tempo todo, em velocidade máxima e arcando muitas vezes sozinha com as consequências. Pessoas inseguras não conseguem operar nesse cenário — e não conseguem exercer seu potencial como profissionais. As pessoas precisam de espaço pra construir seu jeito de fazer e desenvolver de maneira sólida os lugares que domina com segurança.
5. O desenvolvimento da nossa autoconfiança também passa pela nossa identidade como seres humanos.
Precisamos conseguir expressar os elementos que formam nossa identidade — é ela quem nos faz o que somos e entregar o que entregamos como profissionais. Se tentamos nos encaixar numa outra forma, ficamos desconfortáveis — e inseguros para colocar em prática o que sabemos.
6. Designers precisam entender sobre Gestão de Produtos. E PMs precisam entender de Design.
E todo mundo precisa entender um mínimo de tecnologia. Times que não conseguem ter um entendimento comum não vão gerar bons resultados, pois não entendem como aproveitar as ferramentas que as outras pessoas têm à disposição.
7. Ter pouco conhecimento sobre algo é muito mais arriscado do que não ter nenhum.
Quanto mais sabemos sobre algo, mais nós entendemos que, na verdade, temos muito mais sobre o que aprender. Nosso trabalho envolve sempre — sempre mesmo — coletar o máximo de pontos de vistas diferentes possíveis.
8. Em um time, competências são mais importantes do que descrições de cargo.
Sempre se pode fazer um alinhamento de alto nível e partir daí. Especificações muito detalhadas estimulam o individualismo, a falta de visão do todo e limitam quem tem vontade de colaborar com o que sabe como pessoa – e não com só com um nome de cargo.
9. O esporte que a gente joga é coletivo.
Decisões tomadas a partir de apenas um ponto de vista, ou de maneira autocrática, têm maior risco de dar errado. Boas decisões são tomadas incorporando diversos pontos de vista — principalmente contrastantes ou opostos — e com o máximo de informações possíveis. Um grupo com boas intenções sempre vai tomar decisões melhores do que qualquer pessoa sozinha, por mais brilhante que ela seja.
10. Liderança não deveria ser sobre ego ou sensação de poder.
É sobre ajudar pessoas a se desenvolver a partir dos desafios que são propostos a elas no trabalho. A palavra final nunca deve ser do líder — e sim de quem está com as mãos no problema de verdade. Principalmente quando essa liderança precisa ocorrer por influência, como no caso de PMs em relação aos seus times/squads. PMs não são CEOs do produto nem tem um papel de centralização entre negócio, tecnologia e design. PMs são facilitadores — sem apoio do time seu papel se torna completamente irrelevante.
11. Líderes de verdade cuidam das pessoas, do negócio e de si.
Sendo líderes, precisamos garantir que nossos times estão inseridos nas conversas importantes que acontecem na empresa.
12. Ter paixão importa.
Ser uma pessoa que transmite paixão sobre aquilo que faz quase sempre importa mais do que ser alguém brilhante — mas sem emoção.
Boas festas : )
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