Como tomamos decisões?
Um modelo pra ajudar a entender nosso processo de tomada de decisão — além de ferramentas que ajudam a fazer escolhas melhores.
“Decision implies the end of deliberation and the beginning of action.” — William Starbuck
Todos nós, pessoas de produto, precisamos tomar decisões diariamente — sejam elas mais simples ou mais complexas, de maior ou menos impacto. Mais do que isso, grande parte (se não 100%) do nosso desempenho é medido a partir das escolhas que fazemos.
Mas qual a estrutura de uma decisão? Toda decisão segue o mesmo padrão? Quais as características de uma boa decisão? Por que muitas vezes tomamos decisões ruins — mesmo em cenários improváveis?
Eu me fiz todas essas perguntas inúmeras vezes — e aí acabei criando um framework que me ajuda a pensar de maneira mais estruturada nas escolhas que preciso fazer o tempo todo. Essa ferramenta tem como objetivo melhorar a qualidade das decisões que preciso fazer, ou pelo menos mapear riscos e definir planos de ação necessários — o que na maioria das vezes é algo essencial pra lidar com os seus resultados. É o que compartilho com vocês hoje.
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A estrutura de uma decisão
Uma decisão, dentro do framework que mencionei acima, possui quatro componentes principais: experiência, contexto, método e intuição.
Cada um destes componente pode ter um peso diferente, dependendo do tipo de escolha que fazemos. Decisões de baixo risco ou mais operacionais precisam de muito menos experiência ou intuição para serem tomadas — até porque precisam normalmente ser tomadas em volume relativamente grande e numa janela bem curta de tempo. Por exemplo: a criação de uma tela de checkout de um e-commerce pode seguir regras e heurísticas que existem de maneira extensa no mercado, ao invés de partir do zero.
Problemas ou contextos complexos, de alto risco ou onde o potencial de impacto é alto precisam de um processo de decisão mais estruturado. E quanto mais estratégica é a decisão, mais a subjetividade e a ambiguidade se tornam componentes intrínsecos nesse processo.
A seguir dou um pouco mais de detalhe sobre cada um desses componentes.
1. Experiência
Nossas experiências anteriores ajudam a eliminar alternativas já testadas e a criar cenários e hipóteses com mais agilidade e confiança. Nosso repertório é formado pelos nossos acertos — mas também pelos erros que cometemos, analisamos e tornamos em aprendizado.
"Good decisions come from experience. Experience comes from making bad decisions." — Mark Twain
2. Contexto
Esse componente tem a ver diretamente com o volume e a qualidade das informações que possuímos e que nos ajudam a construir um ponto de vista mais profundo e abrangente sobre a situação. Quanto menos contexto, mais incompleto é o nosso ponto de vista — o que aumenta absurdamente o risco de tomarmos a decisão errada. Contexto pode vir de vários lugares (e nunca de um só), como dados de uso, experimentos já realizados, pesquisas quali e quanti, dados de mercado, conhecimento de stakeholders e pessoas próximas ao problema, pra citar alguns dos principais.
3. Método
A prática diz que, na maioria das vezes, não temos a experiência ideal nem todo o contexto necessário pra tomar uma decisão. Quando isso é verdade, o que faz a diferença é se temos (e utilizamos) ferramentas e métodos adequados para chegar onde precisamos — com velocidade. Algumas vezes vamos precisar estruturar um workshop com as pessoas certas para levantar hipóteses e priorizar os próximos passos de uma iniciativa. Outras (muitas) vezes, vamos precisar rodar experimentos rápidos para testar em ambiente controlado nossas ideias e verificar se estamos no caminho certo. O problema é que, se não temos repertório suficiente, ou se não sabemos como escolher o ferramental adequado, vamos acabar perdendo tempo demais nesse processo de tentativa e erro. E eu já vi muita gente ficando presa num vórtex de métodos inadequados usados com as pessoas erradas, ao invés de focar na decisão em si.
4. Intuição
Ao contrário do que possa parecer, esse componente não vem do livro de referências do jovem místico. A intuição é comprovadamente parte essencial da inteligência humana e faz parte de abordagem cientificamente válida para construir boas decisões. Ela é importante pois nem sempre as informações que temos estão completas ou fazem sentido. E num ambiente como o nosso — no qual tanto os problemas em que atuamos quanto as solução possíveis são pouco conhecidas — nem sempre as informações que temos são preditivas de uma boa decisão. Nossa intuição nos ajuda a conectar pontos onde argumentos mais racionais são menos efetivos. E seguir com alguma segurança quando estamos paralisados analisando dados e buscando correlações.
Como tomar melhores decisões?
A primeira coisa é começar a olhar para o seu processo de maneira mais estruturada — seja a partir do framework que compartilhei nesse artigo ou algum outro. Isso vai ajudar a "desembaralhar” sua análise e entender melhor quais são suas forças e quais suas fraquezas em cada contexto — levando você a escolher a abordagem que terá mais chances de resultar em boas decisões.
Além disso:
Cuidado com os vieses cognitivos. Eles podem atrapalhar sua capacidade de percepção da realidade quando você estiver avaliando se tem experiência ou contexto suficiente pra tomar uma decisão sem buscar ajuda, por exemplo. Muitas e muitas vezes são esses vieses (inconscientes ou não) que nos levam a fazer escolhas ruins.
Avalie seu comprometimento. Quando somos diretamente afetados (e é responsáveis) pelas consequências da escolha que fazemos, maior será o nosso comprometimento com o resultado final do processo de tomada de decisão. Isso é bem relevante na hora de mapear quem deveria participar do processo e com qual intensidade.
Boas decisões não garantem bons resultados. A execução é tão ou mais importante.
Planeje cenários alternativos. Boa parte das decisões que tomamos não vão dar certo, isso é fato. Por isso, ter planos com ações de contorno é algo que sempre recomendo — voltar para a prancheta normalmente significa perder timing.
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